A homenagem prestada a Sérgio Moro, no Principado de Mônaco, não foi apenas um espetáculo deprimente de deslumbramento mundano. A exemplo dos eventos com Moro, bancados na LIDE pela Gocil - a suspeitíssima empresa de serviços terceirizados de São Paulo -, a intenção do Principado foi valer-se do juiz para se precaver contra eventuais operações identificadas pela Lava Jato, a exemplo da conta de Jorge Zelada, ex-executivo da Petrobras.
Desde antes da Primeira Guerra. a reputação de Monaco é a de um centro de traficância, de negócios escusos, de evasão fiscal, de transações mal explicadas no campo dos esportes, do entretenimento, do comércio de armas, e outros tráficos.
Os eventos em Mônaco são todos a serviço desses interesses. Nada é altruístico, filantrópico, tudo é falso e viscoso, destinam-se a plataformas de negócios, que são a única razão da existência do Principado, algo que interessa à França exatamente como um guichê de transações que ela quer esconder.
Justamente por interessar aos círculos de poder de Paris, a França tolera o Principado de Mônaco, uma ficção territorial.
Nos bastidores desse enclave está a Societé des Bains de Mer, a verdadeira dona do Principado, proprietária do Casino, maior fonte de renda do Principado, do Hotel de Paris, o mais luxuoso, do Hotel Hermitage, o segundo mais caro, dos clubes de praia por onde se tem acesso ao mar, e também da maior parte dos imóveis de Mônaco.
Logo depois da Primeira Guerra, a SBM-Societé des Bains de Mer foi comprada pelo homem mais rico da Europa e o mais sinistro, Sir Basil Zaharoff, um grego russificado, nascido em Constantinopla que começou a vida preso por furto. Depois, se tornou o rei dos armamentos, fomentador de guerras, maior acionista da Vickers Armstrong , maior empresa bélica da Inglaterra, da Maxim Nordenfeldt, empresa que inventou a metralhadora, da Societé des Torpilles Whiehead, a empresa que inventou o torpedo, da fabrica de armamentos Putiloff, a maior do ramo na Rússia Imperial.
Zaharoff é uma lenda. Sua biografia por Richard Lewinsohn, um francês que fundou a revista Conjuntura Econômica na Fundação Getulio Vargas, "Zaharoff O Mercador da Morte", é um clássico, editado pela Civilização Brasileira.
Esse personagem sinistro mandou em Mônaco. O Principe era seu serviçal. Zaharoff morreu em 1937 sem deixar herdeiros e, em 1953, as ações da SBM caíram nas mãos do armador grego Aristoteles Onassis, um dos reis dos petroleiros gregos, figura de ficha tão pesada que não podia entrar nos EUA onde tinha processo criminal por fraude até se casar com a ex-primeira dama do Pais, Jacqueline ex-Kennedy.
Onassis sediou sua firma Olympique Maritime em Mônaco. As ações da SBM novamente rodaram após a morte de Onassis e hoje estão em mãos do Emir do Qatar e outra parte com o atual Principe. Há também ações com bilionários árabes residentes na África Ocidental.
Por toda essa história a reputação de Mônaco, no mundo politico europeu sempre foi a de um paraíso fiscal da pior espécie, centro mundial de lavagem de dinheiro e evasão de impostos, centro europeu do tráfico de armas. As principais empresas de comércio de armas pesadas estão sediadas em Mônaco, como a INTERARMS e outras geralmente comandadas por russos, europeus orientais e israelenses, que fornecem para terroristas e rebeldes na África e Oriente Médio.
Mônaco é um dos pousos mais apreciados por oligarcas russos e potentados do petróleo do Oriente Médio. O Casino, onde Moro desfilou, continua sendo um grande negócio do Principado, com a vantagem de lá se poder legalizar qualquer dinheiro.
Até alguns anos atrás, era um dos sete países que integravam a lista negra de paraísos fiscais da OCDE: Andorra, Ilhes Marshall, Libéria, Liechtenstein, Mônaco, Nauru e Vanuatu. As pressões levaram o país a se enquadrar em alguns tratados. Mas apenas este ano decidiu integrar a rede de troca automática de informações financeiras, com seus potentados devidamente reciclados para outros centros.
Diz-se que Mônaco ajudou a repatriar o dinheiro de Jorge Zelada. Perfeitamente normal, é preciso sacrificar algum pé de chinelo que não mais vai trazer dinheiro ao Principado para dar uma demonstração de colaboração com a "justiça" internacional e com isso proteger as contas de oligarcas russos, que jamais serão entregues. Está ai o exemplo trágico do banqueiro Edmond Safra, que morreu queimado em Mônaco, depois que denunciou um russo, seu cliente.
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